terça-feira, 1 de dezembro de 2009

pelo devir de um novo porto/paisagem

as paisagens só existem quando passamos por elas. quando caminho por cheiros, cores, formas, sons, habito a cidade (no sentido mais banal) e a incorporo por todos os poros: alço âncora, navego os 7 mares e chego a desembarcar num Porto, no meu corpo, mas...à Deriva.

Andréa Portela

domingo, 15 de novembro de 2009

EXPOSIÇÃO PORTO Á DERIVA NO SESC ARSENAL


PORTO Á DERIVA, experiências de INTERVENÇÃO URBANA na região do Porto em Cuiabá


DIA 17 DE NOVEMBRO NO SESC ARSENAL
PORTO Á DERIVA,
experiências de INTERVENÇÃO URBANA  na região do Porto em Cuiabá
Sob o familiar, descubram o insólito. Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável.
Que tudo o que é considerado habitual, provoque inquietação...
Bertolt Brecht
Maria Thereza Azevedo

Quando o situacionista Guy Debord nos anos 1960 disse que “As futuras revoluções deverão inventar, elas mesmas, suas próprias linguagens", com certeza imaginou a ressonância de suas idéias sobre arte, cidade e vida pelo mundo, quase meio século depois. Coletivos em rede, coletivos de arte, processos colaborativos, ações táticas, flashmobs, teatro do invisível, grafitti, mídia radical, intervenção urbana   são algumas  micropolíticas que pululam, na contemporaneidade, em vários pontos do planeta, disparam ações em rede nos ciberespaços que refletem no espaços urbanos.  O pensamento situacionista reverberou em grande parte das intervenções urbanas ocorridas nestas últimas décadas. O movimento situacionista chamado de Internacional Situacionista, IS, foi criado em 1957 na Itália, e aglutinou vários movimentos artísticos, como: dadaísmo, fluxus, grupo COBRA e o “Movimento Internacional por uma Bauhaus Imaginista” MIBI “. Buscavam outros modos de estar na cidade, a deriva e a situação eram suas principais formas de abordá-la. Andar pela cidade sem rumo é uma deriva e a situação a maneira de provocar nela, reordenamentos subjetivos.  Paola Berenstein Jacques acredita que as idéias dos situacionistas inspiram novas experiências sobre a cidade.

Pode-se considerar a reunião das idéias, procedimentos e práticas urbanas situacionistas como um pensamento singular e inovador que poderia ainda hoje inspirar novas experiências, interessantes e originais de apreensão do espaço urbano. (JACQUES,2003)

Os situacionistas acreditavam que as formas como percebemos as cidades é mais importante do que como ela é efetivamente construída. É a cidade imaginada que nos impulsiona a agir sobre ela.
A proposta dos situacionistas para as cidades foi a de construir situações, que promovessem reflexões sobre o espaço urbano, sobre a vida cotidiana e sobre a arte.  A base deste pensamento está na “teoria dos momentos” do sociólogo francês Henri Lefebvre um quase situacionista no início do movimento. Para ele  “a teoria dos momentos não se articula fora da cotidianidade, mas se articula com ela, ao juntar-se com a crítica para nela introduzir o que lhe falta”
As situações construídas no cotidiano das cidades são jogos, imprevisíveis podem produzir novas subjetividades e outras formas de relação com a arte aproximando-a da vida cotidiana. A cidade, lugar onde se vive, é o espaço ideal para desenvolvimento de um projeto de intervenção artística, pois como afirma Guattari:
 A cidade produz o destino da humanidade:
suas promoções assim como suas segregações,
a formação de suas elites, o futuro da inovação social,
da criação em todos os domínios. Constata-se muito freqüentemente um desconhecimento deste aspecto global das problemáticas urbanas como meio de produção da subjetividade(GUATTARI-)

No Brasil são inúmeros os movimentos coletivos de intervenção urbana cuja proposta é promover novas visibilidades, novos fazeres e novas posturas em torno das cidades e dos cidadãos que nelas habitam. Para repensar as cidades, projetos como Arte/Cidade, iniciado em São Paulo em 1994, reuniu artistas e arquitetos, internacionais e brasileiros, para práticas artísticas e urbanísticas não convencionais com a finalidade de debater os processos de reestruturação urbana e os dispositivos institucionais da produção cultural trazendo uma grande contribuição para a arte contemporânea brasileira. No ano passado, a Universidade Federal da Bahia organizou o segundo Seminário Arte cidade com a intenção de reunir o atual pensamento sobre as cidades e suas relações com as distintas manifestações, entendendo que essas relações são geradas pela emergência de uma nova ordem social. Outro movimento que se expande é o das cidades educadoras- AICE Associação Internacional de Cidades educadoras- surgiu em Barcelona, Espanha em 1990 e se espalhou pela Europa e pela América Latina, com o objetivo de transformar os espaços da cidade em espaços da cidadania e inserção social. Teve adesão do poder público, de pesquisadores e educadores de várias cidades brasileiras. Cuiabá foi uma das primeiras cidades a se afiliar ao AICE realizando um Congresso sobre Cidades Educadoras em 2001.
Porto à deriva, exercício de reinvenção da cidade subjetiva.
O projeto de intervenção urbana Porto à deriva surgiu no Sesc Arsenal  aglutinando pessoas envolvidas com as artes plásticas, teatro,  música, dança, audiovisual, saúde, ONGs, bem como, ativistas independentes e pessoas preocupadas com o espaço onde vivem. A proposta é o exercício da construção de um olhar sobre a região do Porto a partir de  experiências inspiradas no Movimento Situacionista tendo como referência os conceitos de deriva e situação e os estudos sobre  cidade subjetiva de Felix Guattari. Ressalta os processos colaborativos e a idéia de polifonia de Bakhtin, porque compreende a cidade como uma multiplicidade de diferentes vozes.
O projeto está organizado em três fases:
Derivas Cartográficas – A reinvenção do olhar sobre o lugar. A idéia é uma afetocartografia  que é um mapeamento não funcional, mas afetivo através de derivas pela região do Porto para a construção de um mapa de afetos. Os situacionistas usavam o termo psicogeografia.  Em  Porto à deriva  o bolinho de arroz e o bolicho podem ser pontos de referência, pontos nó de uma rede imaginária. Nestas derivas encontramos pessoas, lugares,  observamos ruas, passantes, comentamos sobre o que vemos, registramos o que nos interessa, conversamos sem pauta e sem relógio.
Intervenções: A proposta das intervenções é a transgressão da lógica dos espaços. Ao tirar o espaço da sua ação habitual é possível desencadear um processo de ressignificação do lugar. Para as ações de intervenção foram escolhidos: O mercado do Porto para uma intervenção que denominamos Mercado Livre.  Num domingo de manhã na área dos peixes, músicos, dançarinos, artistas plásticos, atores, fotógrafos tomam o espaço do mercado e durante alguns minutos promovem uma ocupação artística. Mercado livre é onde se pode vender até sonhos. A proposta é promover um estado de ludicidade efêmera, como uma imagem que se esvai, mas deixa rastros.
Outro é o espaço próximo ao antigo mercado do Peixe e ao Museu da água  onde era a feira. Esta intervenção tem o nome de Sombra e água fresca, o binômio sombra/água como condição essencial para se viver na cidade de Cuiabá.  A terceira intervenção será na abertura da exposição no Sesc Arsenal. Um cortejo performático onde são derramadas palavras e elementos das subjetividades locais colhidos nas derivas.
Exposição- Todo o processo registrado será socializado em forma de uma exposição no SESC ARSENAL. Imagens, textos, sonoridades. O mapa do Porto reordenado e ressignificado por estas ações será o vetor da mostra.


Referências Bibliográficas:
AZEVEDO, Maria Thereza O. Imagens da Cidade São Paulo:  1998texto mimeog.
BACHELARD, Gaston - A poética do espaço - Coleção Tópicos- Tradução Antônio de Pádua Danesi - São Paulo: Martins Fontes,1993
BAKHTIN, Mikhail - Marxismo e Filosofia da Linguagem - São Paulo: Hucitec - 1992
..................................Estética da criação verbal - São Paulo: Martins Fontes, 1992
..................................Problemas da poética em Dostoiévski tradução de Paulo Bezerra 2 ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária,1997.
BENJAMIN, Walter Passagens .Belo Horizonte:Editora da UFMG, 2007
CALABRESE, Omar A era neo-barroca LISBOA: Martins Fontes, 1987
CALVINO, Italo Cidades Invisíveis São Paulo: Cia das Letras, 1991
.......................Seis propostas para o próximo milênio São Paulo, Cia das Letras, 1990
CAMPOS, Haroldo - A arte no Horizonte do Provável - Coleção Debates - São Paulo: Editora Perspectiva, 1977
CANEVACCI, Máximo A cidade polifônica ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. São Paulo: Studio Nobel, 1997.
CANCLINI, Nestor Garcia Culturas Híbridas São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,1997
DELEUZE,Gilles GUATARI, Felix – Mil Platôs Rio de Janeiro: Editora 34,1996
GUATARI, Felix  Caosmose São Paulo: Editora 34,1998
JACQUES, Paola Berenstein Apologia da Deriva, escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. 5. Ed. São Paulo: HUCITEC, 1997
ORTIZ, Renato Mundialização e Cultura. São Paulo: Brasiliense, 2007.
RICHARD, Nely Intervenções críticas Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002


Maria Thereza Azevedo é Doutora em Artes Cênicas pela USP, professora do programa de Pós Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea ECCO da UFMT. Curadora do Projeto Porto à Deriva. 

sábado, 17 de outubro de 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009