sábado, 21 de junho de 2014

Um lugar

Pensando o Morro da Luz a partir da imagem de fundo desta página representada por uma foto tirada por mim por ocasião de uma performance coletiva denominada “Morro de Luz”.
Este fragmento de tempo capturado mostra ao fundo construções da Cidade iluminadas pelas luzes das vias que a conectam; no meio dois canhões de luz que projetados para o alto e em movimento rebatem nas árvores e suas folhagens provocando um grande clarão, visível no centro; em primeiro plano silhuetas, a maioria por estar em contra luz são totalmente escuras, só sombras. Percebe-se que o centro iluminado não foi proposital, mas acaba por materializar cenograficamente um palco onde coincidentemente realizou-se a performance. Que ficou concentrada neste local.
A ideia propagada era a de iluminar um morro porque o imaginavam apagado. Apagado no sentido de abandonado pelo poder público que não o supria com instrumentos e mecanismos que o fizesse visível para os da Cidade. Este abandono creditado para os do Paço, na opinião de algumas pessoas que ouvi e textos que li, permitia que o lugar fosse apropriado por pessoas à margem da Cidade, marginais, o que de certa forma impedia a sua ocupação pelos cidadãos de fato.
A imagem mostra sujeitos sombras silhuetados, não iluminados, porque embora a tentativa fosse a de iluminar um morro o que vimos foi a total falta de luz daqueles que habitam a Cidade.
Este lugar inicialmente pensado para ser um depositário de geradores de energia; como que contaminado pelo produto que de lá saia, Luz, foi estando um morro da luz até ter de fato conquistado o direito de existir e para isto foi arquitetado na sua forma e vegetação um MORRO da LUZ. Arquitetura, arquitextura só existe se existir memória no lugar. Ainda que jovem isto ele tem.
A invisibilidade do Morro da Luz e de outros lugares é causada pelo desinteresse do sujeito cidadão; os que gestam as coisas da Cidade que normalmente não tem muito compromisso para com ela por interesses contraditórios materializam este desejo. Responsabilizar unicamente os do Paço por invisibilizar o Morro é de um comodismo brutal.
Os espaços estão ai para serem ocupados e constitucionalmente (constituição de 1988) nas questões de politica urbana quando define a função social da cidade está bem explicito que o direito a Cidade é um direito coletivo sobrepondo-se aos direitos individuais.
Dizer que o Morro da Luz não é frequentado pelos da Cidade porque está ocupado pelos que estão à margem é de uma simploriedade sem tamanho; o que é estar à margem, não ter um teto, estar desempregado, estas coisas fazem acontecer as outras. Eles estão lá porque é um direito. Se outros não passeiam por lá para caracterizar uma ocupação de fato da coletividade isto faz com que os do Paço não se manifestem.
O Morro da Luz não precisa ser resignificado, revitalizado, as intervenções e performances são magnificas e tem o objetivo de por alguns momentos chamar à atenção para a memória de um lugar. Mas é a última memória que sempre fica, a v ida está muito rápida. O Morro tem que ser ocupado de forma constante, o que exigirá manutenção por parte do município porque ele já é um lugar, é o MORRO da LUZ.

Júlio César de Carvalho Jota