Pensando o
Morro da Luz a partir da imagem de fundo desta página representada por uma foto
tirada por mim por ocasião de uma performance coletiva denominada “Morro de
Luz”.
Este
fragmento de tempo capturado mostra ao fundo construções da Cidade iluminadas
pelas luzes das vias que a conectam; no meio dois canhões de luz que projetados
para o alto e em movimento rebatem nas árvores e suas folhagens provocando um
grande clarão, visível no centro; em primeiro plano silhuetas, a maioria por
estar em contra luz são totalmente escuras, só sombras. Percebe-se que o centro
iluminado não foi proposital, mas acaba por materializar cenograficamente um
palco onde coincidentemente realizou-se a performance. Que ficou concentrada
neste local.
A ideia
propagada era a de iluminar um morro porque o imaginavam apagado. Apagado no
sentido de abandonado pelo poder público que não o supria com instrumentos e
mecanismos que o fizesse visível para os da Cidade. Este abandono creditado
para os do Paço, na opinião de algumas pessoas que ouvi e textos que li,
permitia que o lugar fosse apropriado por pessoas à margem da Cidade,
marginais, o que de certa forma impedia a sua ocupação pelos cidadãos de fato.
A imagem
mostra sujeitos sombras silhuetados,
não iluminados, porque embora a tentativa fosse a de iluminar um morro o que
vimos foi a total falta de luz daqueles que habitam a Cidade.
Este lugar
inicialmente pensado para ser um depositário de geradores de energia; como que
contaminado pelo produto que de lá saia, Luz, foi estando um morro da luz até
ter de fato conquistado o direito de existir e para isto foi arquitetado na sua
forma e vegetação um MORRO da LUZ. Arquitetura, arquitextura só existe se
existir memória no lugar. Ainda que jovem isto ele tem.
A
invisibilidade do Morro da Luz e de outros lugares é causada pelo desinteresse
do sujeito cidadão; os que gestam as coisas da Cidade que normalmente não tem
muito compromisso para com ela por interesses contraditórios materializam este
desejo. Responsabilizar unicamente os do Paço por invisibilizar o Morro é de um
comodismo brutal.
Os espaços
estão ai para serem ocupados e constitucionalmente (constituição de 1988) nas
questões de politica urbana quando define a função social da cidade está bem
explicito que o direito a Cidade é um direito coletivo sobrepondo-se aos
direitos individuais.
Dizer que o
Morro da Luz não é frequentado pelos da Cidade porque está ocupado pelos que
estão à margem é de uma simploriedade sem tamanho; o que é estar à margem, não
ter um teto, estar desempregado, estas coisas fazem acontecer as outras. Eles
estão lá porque é um direito. Se outros não passeiam por lá para caracterizar
uma ocupação de fato da coletividade isto faz com que os do Paço não se
manifestem.
O Morro da
Luz não precisa ser resignificado, revitalizado, as intervenções e performances
são magnificas e tem o objetivo de por alguns momentos chamar à atenção para a
memória de um lugar. Mas é a última memória que sempre fica, a v ida está muito
rápida. O Morro tem que ser ocupado de forma constante, o que exigirá
manutenção por parte do município porque ele já é um lugar, é o MORRO da LUZ.
Júlio César de Carvalho Jota